domingo, 9 de fevereiro de 2014

Nós

  Ela era uma princesa como todas as outras, bonita e gentil. Todos admiravam sua beleza e a amavam por vários razões, mas ela era muito triste.
  Com o tempo parou de sorrir. Não deixava mais o castelo e apenas vagava sem rumo pelo jardim, com o olhar vazio. Não cuidava mais da aparência e não comia direito.
  O rei e a rainha, muito preocupados com o estado da filha, chamaram os melhores feiticeiros do reino para que pudessem curá-la.
  O primeiro era um homem alto e parrudo. Ele entrou no quarto da princesa e a viu deitada, fitando o teto:
  -Mas o que vejo é óbvio. Sua majestade cometeu o erro de se apaixonar... Jovens da sua idade, sempre sonhadoras. Pois eu digo que isso é bobagem! Pare com essa frescura. - A princesa suspirou impaciente.
  O segundo era uma mulher magra e nariguda. Ela tirou uma lupa da bolsa e observou atentamente o rosto da princesa:
  -Mas o que vejo é óbvio. Sua majestade cometeu o erro de se apaixonar... Sei como se sente, mas ficar lamentando o amor proibido não vai resolver o problema. Nós mulheres temos que ter atitude! Não precisamos de homens! Pare com essa frescura. - A princesa suspirou e revirou os olhos.
  O terceiro era uma mulher gorda e pomposa. Jogou um pó no chão que fez com que um cheiro terrível se espalhasse pelo quarto.
  -Mas o que vejo é óbvio. Sua majestade cometeu o erro de se apaixonar... Não é necessário ser um feiticeiro para ver isso. Oh querida, tudo o que você precisa é do beijo de amor verdadeiro de seu amado e  toda sua dor irá passar. - A princesa suspirou, revirou o olhos e abriu as janelas para que aquele cheiro horrível passasse.
  O quarto, o quinto e o sexto entraram em seu quarto e disseram a mesma coisa. Todas essas visitas a estavam deixando irritada, portanto, quando o último feiticeiro entrou, ela tratou logo de gritar:
  -Se você é mais um que veio dizer que estou apaixonada, VEIO A TOA!
  -Dá pra ver claramente que você não está apaixonada. - Era um aprendiz. Usava roupas simples e carregava uma sacola lotada com pergaminhos. A princesa ficou chocada, mas não tinha mais fé para acreditar que ele poderia curar sua tristeza. - Seu cabelo está mais longo desde a última vez que você saiu do castelo e você nem se incomodou em deixá-lo assim. Mal consigo ver seu rosto.
  A princesa retrocedeu um passo:
  -Não chegue perto do meu cabelo.
  -Os outros feiticeiros estavam preocupados demais com a recompensa para perceber isso. Os nós. - Em um reflexo rápido, ela colocou a mão em uma mecha. - Eles tinham um ponto, seus sintomas com certeza acusam um caso de paixonite, mas para mim estava óbvio demais. Você precisa desfazer esses nós, majestade.
  Ela encostou na parede. Estava aterrorizada.
  -Não se aproxime...
  -Esses nós estão tirando sua energia. Cheios de preocupação. Eles são simples de desfazer, as preocupações, nem tanto. Fique parada. - Ela fechou os olhos, no fundo queria que todas as preocupações fossem embora.
  E por um momento, elas foram. Ela sentiu o peso de seus ombros saírem. Quando abriu os olhos, percebeu que seu cabelo estava jogado a sua volta:
  -Os nós se foram, mas a preocupações não. - Ela colocou a mão junto ao peito.
  -O que eu faço para que elas não voltem? - Ele fitou o rosto da princesa. Se aproximou lentamente e lhe entregou um pergaminho com uma pena vermelha.
  -Escreva. Mantê-las dentro de si não vai ajudar. Mas, se me permite expressar minha opinião, eu não acho que essa preocupação é necessária. Você será uma rainha brilhante.
  -Mas para quem eu vou escrever?
  -Pode escrever para mim.
  Com o passar do tempo, a princesa sempre escrevia para o jovem feiticeiro. As vezes eram cartas felizes, outra vezes eram tristes. Eles compartilhavam a emoção um do outro.
  Até que um dia, um nó se formou no cabelo do aprendiz. Um nó de saudade da princesa.

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