quinta-feira, 17 de outubro de 2013

  O sol estava forte naquele dia. O dia que Virgílio decidiu viajar.
  Estava cansado de trabalhar muito e ganhar pouco. Havia juntado dinheiro em alguns meses, então decidira que seria esse o dia de sua partida. Aposentou a enxada, encheu uma trouxa com roupas e partiu sem olhar para trás.
  Dias se passaram até que ele achou uma pequena fazenda no meio do caminho. O lugar se destacava na paisagem. Uma grande casa laranja com uma cerca marrom. Resolveu que pararia ali para passar a noite. Sentia falta de uma cama na hora de dormir.
  Bateu na porta e uma senhora atendeu. Tinha pele queimada de sol e olhos cansados. O cabelo estava escondido embaixo de um chapéu. Parecia ter uns quarenta anos. Atrás dela, uma menininha de uns 10 anos se escondia. Seu cabelo estava preso em duas tranças. Ao espiar dentro da casa, viu mais uns dois pares de crianças. Todos meninos. Viu também um marido desmaiado no sofá.
  -Posso passar a noite aqui? - Perguntou o viajante, humildemente.
  -Se estiver disposto a pagar...
  -O que a senhora quiser. - Respondeu.
  -Trabalhe para mim hoje e lhe garantirei uma cama. - Virgílio não viu motivos para não aceitar.
  Trabalhou a tarde toda ao lado da mulher. Ela parecia estar acostumada com trabalho pesado. Ao final do dia, ela não ofereceu somente uma cama, mas também um banho e um jantar em família. Era tudo muito calmo e acolhedor. Virgílio pensou em ficar e trabalhar ali, mas logo afastou a ideia. Não era isso o que procurava quando saiu de sua terra.
  No dia seguinte, partiu bem cedo. Despediu-se das crianças e do casal. A mulher insistiu que ele levasse uma pequena parte da colheita.
  Após andar por vários dias, chegou em uma vila. Bem na hora de uma festa. Pelas cores dos enfeites, ele deduziu que fosse algum tipo de festa junina. Não fazia ideia de que dia era, perdera há muito, a noção do tempo.
  Parou em uma barraquinha e comprou um copo de vinho quente. Estava, de fato, muito bom. Quando tinha festas assim em sua cidade, não havia tanta alegria ou comida de qualidade. Viu várias pessoas se reunirem em frente a uma igreja e começarem a dançar. Todos riam e cantavam e ele se sentia em casa. Pensou em ficar, mas logo desistiu da ideia. Por mais agradável que fosse aquele lugar, não era isso o que ele procurava.
  Dormiu em um pequeno hotel e no dia seguinte, foi embora.
  Alguns dias depois, ou talvez semanas, ele não tinha certeza, passou perto de um rio. Ouviu uma cantoria e foi ver o que era. Observou várias mulheres cantando e lavando roupa. Era uma canção animada; fazia parecer que gostavam do que faziam.
  Uma delas chamou a atenção do viajante. Tinha pele morena e olhos cor âmbar. Os cabelos eram castanhos e ondulados. Era a dona de uma bela voz.
  Tomou coragem e se aproximou:
  -Posso ajudar com a sua bacia? - A bela mulher sorriu.
  Ele ajudou-a a levar as roupas até uma grande casa. Provavelmente de uma família muito rica, onde ela trabalhava.
  Depois de conversarem, ele descobriu que seu nome era Janaína. Descobriu também que ela atingira em cheio seu coração. Estava apaixonado.
  Decidiu, então, que ficaria. Ela era exatamente o que ele procurava. Mas, ele não era o que ela procurava... Uma semana depois, um homem chegou na cidade. Um tal de Coronel Mariano. A morena correu em direção aos braços dele.
  Virgílio partiu.
  Chegou em uma cidade costeira. A pesca era o ganha-pão de quase todos que moravam ali. Resolveu tentar a sorte. Aprendera com a viagem que seu lugar não era na roça e muito menos ao lado de Janaína. Quem sabe não encontraria uma bela sereia naquele mar.
  O seu pensamento durou pouco. Percebeu que, apesar de ter adorado a sensação do ar salgado no rosto, não era isso o que procurava... Não demorou para partir.
  Andou e andou, até achar uma estrada. Não estava movimentada. Virgílio esperou até que um caminhão passou. Ele pegou uma carona. O homem não era de falar muito, assim que passaram por uma cidade, Virgílio desceu.
  Era a maior cidade que ele já vira. Passou quase o dia todo procurando um hotel e quando finalmente achou, caiu desmaiado na cama. Deixou para o dia seguinte a procura de um emprego.
  Virou atendente de uma confeitaria, e foi lá que conheceu outra mulher. Cecília era o seu nome e diferente de Janaína, ela tinha a pele quase tão branca quanto papel. Sempre prendia os cabelos louros em um coque e passava um batom rosa, o que realçava o tom azul de seus olhos. Seu sorriso de donzela, o conquistou.
  -Ah, bela dama, - Falou um dia. - aceita fugir comigo?
  Não esperou pela resposta. No dia seguinte partiria.
  Ela correu para ele, como combinaram. Fugiram.
  Virgílio finalmente descobriu o que realmente queria: viajar por ai com o seu amor do lado.

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