terça-feira, 8 de abril de 2014

  -Eu sei quem pode nos ajudar, garoto. - O homem sacudiu a corrente que os prendia.
  -Quem? Mais um dos seus amigos?
  -Diria que é uma conhecida.
  Eles atravessaram a cidade até pararem em frente a uma porta azul. John bateu na porta com a mão livre. A porta abriu-se sozinha, revelando um cômodo escuro.
  -Está escuro aqui.
  -Obrigado pela observação inteligente, garoto.
  Uma pequena luz azul apareceu. E foi aumentando até revelar uma mesa com uma mulher sentada em cima.
  -Quem adentra o santuário... - Ela abriu os olhos e os fixou no homem. - VOCÊ - O breu teve um fim, revelando um amplo cômodo com apenas a mesa em seu centro. A mulher se levantou e caminhou até as duas figuras.
  -E aí Kitty.
  -Meu feitiço finalmente chegou ao fim, hein. Se veio pegar mais, sugiro que troque de estratégia.
  -Eu adoraria um feitiço de ocultação de novo... - Uma grossa corrente dourada apareceu e se envolveu em seu pescoço.
  -Não quero ouvir mais nenhuma palavra enquanto penso no tipo de tortura que irei realizar com você.
  -Antes de começar, poderia me poupar dessa visão? - O garoto falou.
  Ela se virou. Obviamente não tinha reparado que ele estava acompanhado. A corrente afrouxou um pouco.
  -Quem é você?
  -Meu nome é Casper. Eu meio que irritei uma bruxa e ela nos acorrentou. Estamos fugindo dela faz uns 3 dias e nenhum dos amigos desse cara tem nos ajudado.
  -Quero deixar claro que eu sou a vítima na história. - Ela lhe lançou um olhar raivoso antes de responder.
  -Bruxas são criaturas tão vulgares... - Ela se abaixou e tocou na corrente no pulso do garoto. - Vai levar algum tempo, mas acho que consigo desfazer isso. Vem comigo.
  -Kitty, querendo ou não, vai ter que me levar junto. - Com muita má vontade, ela desfez a corrente dourada.
  -Por aqui. - Ela arrastou a mesa, revelando um alçapão com uma escada que guiava para um breu infinito. - Conseguem descer com essa corrente?
  -Sim. Ela se adapta às situações. Você primeiro garoto.
  Kitty foi a última a entrar pelo alçapão. Ela fechou a portinha, fazendo com que o três ficassem na total escuridão.
  -Como eu posso saber em que degrau pisar nesse escuro?
  -Desculpe. As luzes sempre falham e eu sempre esqueço de consertar. - Eles ouviram um estalar de dedos e pequenas luzes amareladas iluminaram o caminho.
  -Obrigado por iluminar minha visão Kitty. Estava ficando incomodado com toda aquela escuridão. - Alguma coisa dura atingiu a bochecha de John. - Estou comovido pela fato de que você me conhece tão bem.
  Dessa vez, seu rosto foi atingido pelo pé da moça.
  -Pensei que fosse o degrau. - Ela deu de ombros.
  Quase um minuto foi necessário para que chegassem ao fundo. Encontraram-se em uma sala ampla e circular. Possuía um altar no centro com um grande caldeirão. Nos cantos, encontravam-se todos os tipos de frascos e coisas esquisitas.
  -Você não vai fazer nada com asa de morcego e veneno de cobra né?
  -Para você? Não. Para aquele lá? Obrigada pela ideia. - Ela olhou para John.
  -Isso já foi a tanto tempo Kitty. Eu peço desculpas, tá? Por que não esquece e recomeçamos?
  -Jamais. Você sabe que um pedido de desculpas não é suficiente. Cale a boca e me deixe trabalhar. Aliás - Ela parou de remexer nas prateleiras. - Quero que pare de me chamar de Kitty.
  -Como quiser Madame Lua Cheia. - Ele e Casper ficaram encostados na parede observando a mulher trabalhar. Ela pegou frascos com líquidos de todas as cores, desde um rosa bem brilhante até um com cor de lama.
  Ela depositou tudo na mesa ao lado do caldeirão, o fogo se acendeu sozinho, qualquer coisa que tivesse lá dentro começou a borbulhar. Depois, tirou um conta gotas da túnica e despejou três gostas do líquido rosa. Cinco do líquido azul, duas de um líquido amarelo e uma do líquido marrom. Com um toque final, ela puxou um fio de cabelo loiro da própria cabeça.
  O que ocorreu depois foi uma explosão. O que espalhou muita fumaça no lugar.
  Casper tossiu.
  John tossiu.
  -Lua!? - Uma figura se aproximou dos dois.
  -Desculpe por isso. Meu caldeirão está enferrujado, então isso ocasionalmente acontece. Não se preocupem, não atrapalha no resultado do feitiço. - Ela mexeu a mão e a poeira foi sumindo gradativamente. - Estiquem a corrente, por favor.
  Ela revelou o conta gotas, agora sem nenhum líquido dentro, mas ao posicioná-lo em cima da corrente, era como um líquido invisível estava derretendo a corrente. O rosto dos dois se animaram ao ver que a corrente, assim que separada, havia sumido de seus pulsos.
  -Obrigado Madame Lua Cheia. - Casper fez uma reverência. Lua retribuiu igualmente.
  -Eu não mereço uma reverência?
  -Saiba que fiz isso pelo garoto. Nem a pior pessoa deste mundo mereceria ficar acorrentado à alguém como você. Vocês podem pegar a escada, meu trabalho acabou.
  -Mais uma vez, obrigado.
  -Até algum dia, Casper. - E o garoto começou a subir as escadas. - Você tem que ir também.
  -Acontece que eu resolvi ficar aqui. E eu sei que você não vai me mandar embora a força. - Falou em tom provocativo.
  -E o que te faz pensar assim. - Ela o encarou, em desafio. Estavam bem próximos um do outro.
  -Por que você ainda me ama. Apesar de negar isso para si mesma, é a mais pura verdade.
  -Começo a questionar qual de nós dois é mais inocente.
  -Talvez eu ganhe por uma diferença miníma. - E a beijou. Como esperava, ela retribuiu.

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